Congresso Virtual da Sociedade de Cirurgia Robótica de 2020

Em virtude da pandemia em curso, o Congresso da Sociedade de Cirurgia Robótica (SRS - Society of Robotic Surgery) ocorreu de modo virtual.


As apresentações relativas a cirurgia torácica aconteceram no sábado próximo passado, 1º. de agosto, no período da manhã.


Um dos coordenadores e moderadores desta sessão foi o Prof. Dr. Ricardo Terra, um dos sócios fundadores do nosso site cirurgiatoracicarobotica.com.br (currículo disponível no site), juntamente com a Dra. Lana Schumaker, do prestigioso Massachusetts General Hospital, em Boston, EUA.


O programa foi composto de apresentações sequenciais de 10 minutos cada, sendo diversos palestrantes de renome internacional, todos com larga experiência em cirurgia torácica robótica.


A primeira exposição foi sobre plataformas de navegação robótica (principalmente utilizada para endoscopia respiratória com biópsia de nódulos pulmonares localizados mais na parte externa dos pulmões), onde foram feitos comparativos das principais marcas disponíveis no mercado, bem como modos de aquisição dos dispositivos. Neste momento, estes aparelhos ainda não disponíveis em nosso país, mas cremos que serão parte de nosso arsenal de diagnóstico e tratamento de tumores pulmonares iniciais dos pulmões em futuro próximo.


A segunda palestra versou sobre timectomia para tratamento auxiliar da Miastenia Gravis. Foram descritas abordagens mais usadas como pela lateral do tórax (sem abertura do osso esterno), bem como outra por via subxifoidea (por baixo do esterno, próximo ao abdome), sempre reforçando a importância da retirada de todo tecido entre os nervos frênicos, e com visualização direta destes, a fim de evitar sua lesão inadvertida. Os resultados também foram mostrados, inclusive de estudo prospectivo publicado no New England Journal of Medicine, referente ao assunto.


A palestra seguinte foi sobre o tratamento da síndrome do desfiladeiro torácico (thoracic outlet syndrome ), em que a primeira costela comprime as estruturas neurovasculares locais, com sintomas quando o paciente eleva os membros superiores. A ressecção parcial da primeira costela costuma aliviar os sintomas, e crê-se que o método robótico permite melhor visualização das estruturas, com menor trauma local, e menores chances de complicações neste tipo de procedimento.


Em seguida, foi abordada a ressecção de lesões do mediastino, assim como a plicatura do diafragma. Estas são situações onde a aproximação do robô (docking) e a colocação dos portais pode diferir bastante em relação aos procedimentos sobre o pulmão. A palestra foi bastante didática, reforçando aspectos técnicos.

Houve, então, um painel de discussão, com perguntas e respostas entre os moderadores, e os palestrantes.


A seguir, tivemos duas palestras sobre aspectos técnicos e dicas de como evitar armadilhas nas ressecções pulmonares mais comuns, a lobectomia e a segmentectomia. Foram palestras bem didáticas, com vídeos interessantes, e dicas importantes dadas por cirurgiões experientes, inclusive com a utilização de grampeadores robóticos, pouco utilizados em nosso meio.


A chamada ressecção lobar em "manga de camisa" é um procedimento que visa evitar a pneumonectomia, mas que requer o rigor oncológico, a fim de evitar recidivas locais. Este foi o tema da apresentação seguinte, onde percebe-se claramente as vantagens da visão 3D, e das articulações das pinças robóticas, tanto para os procedimentos do lado direito como do lado esquerdo. O exame de congelação das margens é essencial nestas situações, bem como o estadiamento rigoroso do mediastino antes da cirurgia.


O próximo palestrante falou sobre ressecção de parede torácica, principalmente quando tumores do pulmão invadem a pleura parietal e as costelas. Foram abordadas estratégias de como seccionar as costelas por via robótica, assim como dicas sobre a ressecção pulmonar antes os depois da toracectomia.


Para tumores mais avançados, ou em que os linfonodos estão comprometidos, mas são ressecáveis, pode se lançar mão de tratamento sistêmico neoadjuvante com quimioterapia, e mais recentemente, há protocolos associando imunoterapia antes da cirurgia. A apresentação seguinte foi sobre este tema, corroborando nossa impressão de que, por via robótica, podemos fazer uma cirurgia por abordagem minimamente invasiva, e ainda assim, com uma linfadenectomia mais precisa, e uma dissecção mais cuidadosa do hilo pulmonar, principalmente nos tumores mais centrais.


Após nova sessão de discussão dos temais pelos painelistas, seguiram-se palestras voltadas para temas como montagem da sala de cirurgia robótica, treinamento do time cirúrgico (médico e de enfermagem), bem como otimizar os processos, a fim de melhorar a performance, e reduzir o tempo de permanência do paciente no centro cirúrgico.


Igualmente importante foi a apresentação sobre treinamento de residentes, já que o conhecimento médico deve ser passado de geração a geração, de modo condizente com o progresso tecnológico e científico. A pandemia de COVID19 reduziu significativamente o número de cirurgias eletivas, dificultando o treinamento dos médicos residentes.


Nas três palestras seguintes, foram mostrados dados e foi discutido o impacto da pandemia de COVID19 nos programas de cirurgia robótica (aspectos financeiros), nos serviços de cirurgia torácica como um todo, e o Prof. Dr. Ricardo Terra fechou as sessões, falando sobre esta repercussão nos serviços ao redor do mundo.


Enfim, o programa foi abrangente, com apresentações sobre técnicas cirúrgicas, dicas para procedimentos avançados em cirurgia torácica robótica, bem como discussões sobre treinamento de uma equipe eficiente, e como contornar os efeitos negativos da pandemia sobre os programas de cirurgia torácica.