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cirurgia torácica robótica vem crescendo muito rapidamente no Brasil e este fato traz à tona um grande desafio que é o treinamento dos cirurgiões para o uso adequado desta nova tecnologia. Esta questão pode ser dividida em duas: treinamento dos cirurgiões já em exercício e treinamento dos cirurgiões ainda em fase de formação. Em nosso próximo post abordaremos a capacitação e habilitação dos cirurgiões em atividade e, neste texto, discutimos a robótica nos programas de residência médica.
Anualmente se formam no país cerca de 46 residentes de cirurgia torácica e parte destes opta por um ano adicional para complementação de seu aprendizado. A maioria dos programas de residência são oferecidos por hospitais públicos com recursos muito heterogêneos. As necessidades das diferentes regiões do país também são diversas bem como o local de trabalho do futuro cirurgião torácico, que pode ser um hospital de comunidade ou um centro de referência. Nossa pergunta, as residências de cirurgia torácica devem investir em treinamento em cirurgia robótica, se insere neste contexto.
Ainda que o robô esteja disponível em todas as regiões do país, sua disponibilidade ainda é restrita a grandes centros de referência. Esperamos um aumento progressivo no número de plataformas, bem como sua interiorização, mas pensar que vai se tornar rotina em todos os serviços a curto ou médio prazo é algo utópico. Nem mesmo a videotoracoscopia, que foi introduzida em nosso meio há mais de 20 anos e exige um investimento capital muito menor, é rotineira no país. Portanto, a robótica não deve ser prioritária para os programas de residência no momento, é muito mais importante investir numa formação com princípios sólidos nesta área do conhecimento e em tecnologias voltadas para a videocirurgia.
Contudo, isso não significa que expor residentes à esta nova tecnologia não seja benéfico em alguns casos. Nossos egressos vão trabalhar em diferentes realidades e certamente para aqueles que têm como objetivo praticar em grandes centros de referência, a cirurgia robótica será um grande diferencial. Alguns serviços de residência médica já têm programas de cirurgia torácica robótica ativos como: Universidade de São Paulo (sob supervisão, entre outros, dos Drs. Ricardo Terra, Pedro Nabuco e Alessandro Mariani), Rede D?Or/São Luiz (sob supervisão dos Drs. Rui Haddad, Felipe Braga e Carlos Eduardo Lima), UERJ, USP/Ribeirão Preto e UFRGS. Nestes hospitais, residentes tem exposição ao robô, porem ainda não recebem treinamento específico visto que parte do staff ainda está em treinamento, entretanto, isto é uma questão de tempo. Observamos fenômeno semelhante com a videocirurgia há cerca de 10-15 anos.
Concluindo, a cirurgia robótica não é prioritária para os programas de residência médica, mas será um diferencial para aqueles que desejam atuar em grandes centros e será gradualmente incorporada nos maiores serviços. À semelhança da videocirurgia observaremos um gap entre a introdução dos sistemas robóticos e o início do treinamento dos residentes devido ao período de treinamento de todos os elementos do staff. Um modelo que provavelmente se popularizará é o modelo de fellowship, à semelhança do desenvolvemos junto à Rede D?Or/São Luiz
(saiba mais sobre nosso fellowship), no qual um ano adicional à residência é dedicado à cirurgia robótica.